Os corruptos se adaptam às mentiras…

desenho-donald-lilo-pinochio-pocahontas-tarzan-e-jane-desenho-colorido-com-fundo-transparente-dibujos-ideia-criativa-2Os últimos anos têm sido bem conturbados. No Brasil e no mundo não faltaram exemplos de corruptos e mentirosos. Se toda a mentira realmente desencadeasse em um nariz grande, o mundo já seria habitado por Pinóquios. Brasília mesmo não teria espaço para tamanha narinas.

Eu sempre me perguntei: Será que esses políticos corruptos não tem um mínimo de vergonha? Mesmo com a desonestidade escancarada, o indivíduo continua deitando e rolando. Tenho chegado a conclusão que isso tem relação com a cultura da desonestidade e pode ter começado com pequenas transgressões, como colar na prova, lá no início da vida.

Você já agiu desonestamente? Você acha que sua ação foi menor ou maior que a dos outros? Muito difícil comparar, não é? Afinal desonestidade, sendo ela pequena ou grande, é uma forma de corrupção.

Pois então, esse texto é para você político corrupto que roubou dinheiro público. E também é para você corrupto que baixou software pirata na internet, é para você corrupto que parou seu carro na vaga de idoso, é também para você corrupto que assinou ponto de trabalho pelo amigo ou que entregou atestado médico falso, é para você corrupto que faz gato de internet a cabo, é para você corrupto que já falsificou carteirinha de estudante, é para você corrupto que dá o jeitinho brasileiro…

Bom, então está tudo certo, o texto é para todos nós!logo_campanha_corrupcao

O que é interessante é que as vezes a gente não precisa mentir quando fazemos alguns tipos de corrupção. Por exemplo, em determinados grupos sociais tendemos a assumir mais sobre a desonestidade só porque o grupo aceita aquela atitude. Exemplo: quando estamos inseridos em um grupo em que todos baixam músicas piratas na internet, achamos até desculpas para nos sentirmos melhores com nós mesmos: Os músicos querem ver suas músicas divulgadas e ouvidas por todos. Estou os ajudando. Para outras situações nas quais nossos amigos não nos aprovariam preferimos mentir sobre qualquer possível deslize. O grupo no qual estamos inseridos irá julgar suas desonestidades e, consequentemente, o seu caráter.

Dan Ariely, um pesquisador israelense da Duke University nos Estados Unidos, diz que diante a possibilidade de fazer algo errado para alcançar um benefício próprio, colocamos em jogo dois pesos: 1) o benefício em si e 2) como aquele desvio e mentira podem prejudicar nossa imagem perante aos outros. Cada um de nós comete pequenos deslizes na medida que ainda consegue se ver como uma pessoa de bom caráter e do bem. Se você está inserido em um grupo que acha que deixar de declarar as compras acima de $500.00 na alfândega é OK, isso não vai te afetar… Para o político, aceitar uma propina também faz parte do  ambiente social que ele está inserido.

Muita gente pratica pequenas desonestidades no dia a dia. O Dr. Ariely já avaliou mais de 35.000 pessoas. Sabe como? Ele deu um teste de matemática simples para as pessoas, mas deu pouquíssimo tempo para resolver as questões. Quando forçadamente o teste era finalizado, o pesquisador pedia que as pessoas contassem o número de respostas corretas, jogassem o teste fora em um triturador e o avisassem quantas respostas tinham acertado. O pesquisador, então, entregava uma recompensa em dinheiro proporcional aos acertados relatados. Em média as pessoas diziam que haviam acertado 60% das questões. A sacada é que o triturador não funcionava! Os pesquisadores podiam reanalisar o quanto cada pessoa realmente havia acertado e isso dava em torno de somente 40%. Ou seja, muita gente tomou proveito e mentiu, para ganhar um dinheirinho extra! Apesar de ter encontrado uma pequena porcentagem de grandes mentirosos e aproveitadores, a maioria das pessoas – PASMEM – cerca de 25.000, tendem a fazer pequenas ações desonestas em benefício próprio. E na some toda essa desonestidade tem um custo altíssimo para a sociedade.

Apesar disso tudo parecer parte da cultura humana, todos nós deveríamos analisar profundamente os pequenos delitos que comentemos e tomar consciência que praticar pequenos delitos e contar pequenas mentiras podem induzir as pessoas a cometer cada vez maiores desonestidades.

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É possível que além da mesma mentira ir crescendo como uma bola de neve, ela também estabeleça um plano basal que possibilita novas e maiores mentiras. Apesar do impacto dramático da desonestidade na economia, política e educação, nós ainda não temos um entendimento claro em como e por que pequenas corrupções podem gradualmente levar a grandes transgressões.

Como uma boa Neurocientista, eu tenho curiosidade para entender como o cérebro lida com as mentiras. Então como é que passamos a nos sentir confortáveis com determinada mentira após repetí-la ou até aumentá-la?

Um recente trabalho publicado na revista Nature Neuroscience é provavelmente o primeiro que testa com método científico a progressão da desonestidade em um ambiente controlado de laboratório. O trabalho também examina um mecanismo neuronal responsável por tal intensificação das mentiras. Muito provavelmente, aquele político que você e eu pensamos já não se incomoda mais com as mentiras que conta pois dizer pequenas mentiras dessensibiliza o cérebro para emoções negativas e pode encorajar a contar mais mentiras no futuro.

E como eles chegaram a essa conclusão?

Os cientistas da universidade Northwestern em Illinois, nos Estados Unidos, escanearam com um equipamento de ressonância magnética funcional o cérebro de voluntários enquanto eles desempenhavam uma tarefa de adivinhar a quantidade de dinheiro em uma jarra. No entanto, mentir sobre a quantidade de dinheiro na jarra poderia beneficiar ou não o voluntário em detrimento de outra pessoa que os cientistas diziam que estava jogando também. Foi encontrado que a desonestidade para servir ao interesse próprio em detrimento a outra pessoa aumenta progressivamente.

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New Yorker Magazine

Para qualquer pessoa, contar uma pequena mentira ou cometer alguma ação desonesta pode causar sensações negativas como, por exemplo, ansiedade. Umas das regiões cerebrais responsáveis por decodificar a ansiedade é a amígdala (calma, não é aquela que você tirou da garganta, é um pedaço do seu cérebro). A amígdala é a região cerebral central associada com as emoções. O que o trabalho do Dr. Tali Sharot (autor sênior) mostrou é que a amígdala respondia mais fortemente nas primeiras ações desonestas que os voluntários faziam para obter um ganho pessoal. Com o passar do tempo, os cientistas encontraram que quanto menor a ativação da amígdala, maior a probabilidade do indivíduo progressivamente aumentar o nível de desonestidade. É uma bola de neve!

Infelizmente a resposta para aquela minha primeira pergunta: Será que esses políticos corruptos não tem um mínimo de vergonha?, é: Não, eles não sentem vergonha ou remorso. Considerando que a amígdala produz aquela sensação desagradável durante uma mentira e que ela vai se adaptando e ficando cada vez menos ativa, os desonestos se sentem confortáveis em mentir cada vez mais.

jz_le-nez-de-pinocchio-67869O que fazer com os políticos corruptos? Não sei exatamente mas minha opinião é que para os julgados e condenados: CADEIA. Aos outros: NUNCA MAIS TERÃO MEU VOTO!

O que eu sei é que pequenos atos de desonestidade pode desencadear adaptações que faz com que as pessoas pratiquem atos desonestos cada vez maiores. Por isso, analise sua consciência, cuide das crianças e dos adolescente, ensine-os com palavras, ações e exemplos. Educação é fundamental.

Curtam e compartilhem para, quem sabe, esse texto bata na porta de algum político descarado…

REFERÊNCIAS

Neil Garrett, Stephanie C Lazzaro, Dan Ariely, Tali Sharot. The brain adapts to dishonesty. Nature Neuroscience, 2016; DOI: 10.1038/nn.4426

Dan Ariely – The Honest Truth About Dishonesty – The Amazing Meeting 2013

Dan Ariely – The dishonesty project

www.newyorker.com/magazine/2007/07/02/duped

 

 

 

 

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