Eu acho incrível como a ciência acoplada à tecnologia podem explicar conceitos antigos. Quantas vezes você ouviu de alguém:
Calma, respira fundo que vai ficar tudo bem…
Não é só da mamãe e da vovó que ouvimos esse conselho, mas também dos amigos, do terapeuta e do professor de yoga. A ideia que ao respirar mais calmamente podemos nos acalmar é muito antiga e ouvimos expressões como essa quando estamos nervosos, ansiosos e estressados. Se mantermos um ritmo profundo e constante de respiração podemos diminuir os níveis de estresse, melhorar a concentração e nos acalmar.
Em aulas de yoga aprendemos em pouco tempo a importância da respiração. Do sânscrito o Yogi chama de Pranayama o conhecimento e controle do ritmo de respiração. Com a respiração consciente e estruturada conseguimos expandir a energia do corpo.
Comecei a fazer yoga há algum tempo e apesar de sentir os benefícios da respiração mais lenta e profunda, sempre me perguntava se um ritmo leve de entrada de oxigênio e saída de gás carbônico realmente poderia influenciar meu cérebro e, consequentemente, o meu estado emocional. É sempre difícil para mim acreditar em ditos sem uma base científica e um explicação baseada em evidências. Com o tempo e o entendimento do método científico você também vai querer procurar a base científica para cada uma das coisas que te falam por aí!
O bom mesmo é que, uma hora ou outra, a ciência sempre alcança minhas expectativas. Recentemente a Neurociência mostrou que o ritmo da respiração pode realmente afetar o ritmo do cérebro. Cientistas da universidade Northwestern mostraram que o ritmo da respiração cria um certo tipo de atividade elétrica no cérebro que aumenta o julgamento emocional e a memória. Ficou complicado? Eu explico.
O nosso cérebro produz atividade elétrica que pode ser medida através da técnica de eletroencefalograma. São eletrodos colocados na superfície da cabeça que conseguem medir ondas elétricas do cérebro com diferentes frequências que levam denominações como delta, theta, alpha e beta. Por exemplo, oscilações muito lentas de 0.5 a 3Hz são denominas delta e acontecem em alguns estágios do sono.
Em animais de laboratório temos a possibilidade de medir essas oscilações em regiões bem específicas por podermos colocar os eletrodos dentro do cérebro. Alguns estudos já haviam demonstrado que em animais de laboratório existe uma correlação entre a frequência de oscilação do córtex e a respiração do animal. Esses ritmos dinâmicos podem regular a excitabilidade do cérebro e ajudar no funcionamento da memória, além de moldar diferentes comportamentos. Apesar de descrito em animais de laboratório ainda não havia evidências em seres humanos porque o registro de eletroencefalograma da superfície do cérebro não permite aos cientistas obter uma boa resolução espacial e os registros de imagem, como a ressonância magnética funcional, não tem resolução temporal.
Os cientistas da Northwestern tiveram a oportunidade única de registrar o cérebro (isso mesmo, lá dentro do cérebro) de pacientes com epilepsia refratária. É claro, esses indivíduos estavam passando por uma cirurgia médica e concordaram em participar do estudo científico.
Foi observado que a respiração natural sincroniza a atividade elétrica no córtex piriforme (região do cérebro responsável pela codificação do olfato) e de regiões do sistema límbico como a amígdala e o hipocampo. Além disso, a oscilação era robusta durante a inspiração mas somente quando era feita pelo nariz e não pela boca.
Em estudos paralelos comportamentais com outros indivíduos foi observado que a respiração ritmada melhorava tarefas cognitivas como: 1) a discriminação de faces com medo o que mostra que a respiração ritmada vai melhorar sua habilidade de julgamento emocional de determinadas situações; e 2) o desempenho em tarefas de memória episódica, ou seja, a respiração melhora a recordação de memórias de eventos como a primeira vez que você viajou de avião.
O estudo mostra que o ritmo da respiração é usado ativamente para otimizar o processamento de informação no cérebro. O que nós cientistas ainda não sabemos é COMO o ritmo da respiração conversa com o cérebro e determina a atividade dos neurônios. Ficamos a espera dos próprios trabalhos científicos desse assunto.
Por enquanto, INSPIRE, EXPIRE E NÃO PIRE, afinal a respiração proporciona muito mais que oxigênio ao nosso corpo.
E lembre, pelo NARIZ!
REFERÊNCIA:
C. Zelano, H. Jiang, G. Zhou, N. Arora, S. Schuele, J. Rosenow, J. A. Gottfried. Nasal Respiration Entrains Human Limbic Oscillations and Modulates Cognitive Function. Journal of Neuroscience, 2016; 36 (49): 12448 DOI: 10.1523/JNEUROSCI.2586-16.2016
vc leu alguma coisa sobre “respiração holotrópica? Parece que é uma forma de alterar a consciência, mas não sei se tem base científica…
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Ei Ju! Já ouvi falar mas não entendo sei a fundo como se pratica a respiração holotrópica.
O que eu sei é que para o autocontrole (autofeedback) de batimento cardíaco, por exemplo, o importante não é a frequência da respiração mas a ritmicidade. Mesmo que rápida, é importante manter um ritmo constante.
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