Um novo modelo de financiamento da ciência.

downloadEstou naquela fase da vida acadêmica que já ficamos bem perto da promissora posição de pesquisador chefe de um grupo independente. No Brasil, é aquela fase que tentamos prestar concursos. Confesso que o meu desânimo considerando o cenário atual do Brasil é grande, mas esse tópico deixarei para um próximo texto de desabafo.

A questão é que, diferente dos meus anos de mestrado ou início do doutorado, já tenho uma visão muito menos romântica da ciência da forma como ela é feita. Tenho mais críticas do que elogios ao sistema atual de se fazer ciência e considero que o método de financiamento e avaliação das universidades, institutos e cientistas são ruins e contrários ao desenvolvimento de uma ciência de alta qualidade. No entanto, tenho observado algumas mudanças drásticas no método de financiamento que talvez venham para dar uma nova guinada na maneira como a ciência é feita. Não sei se vem para salvar ou melhorar, mas pelo menos vem para mudar.

As grandes empresas tecnológicas estão entrando no mundo científico com investimentos astronômicos. Se você ainda não está sabendo disso, fique atento…

Diferente do passado dos grandes pensadores, hoje fazemos ciência com o dinheiro público. É o governo que direciona o investimento. Nos Estados Unidos, grande parte da ciência de saúde humana é feita com o suporte financeiro do National Institutes of Health, órgão do governo americano que recebe a parte do imposto federal destinado à ciência e faz o repasse aos cientistas avaliando qual projeto deve ou não ser contemplado. No Brasil? Bom no Brasil está uma bagunça agora que o Ministério da Ciência e Tecnologia foi embutido no Mistério da Comunicação (mas aí fica mais isso para o futuro post do desabafo).

O problema desse sistema é que existe um limite financeiro. O que está acontecendo é que o desenvolvimento científico vem ficando cada vez mais caro uma vez que são necessários equipamentos e técnicas cada vez mais avançados. Não existe dinheiro para acompanhar esse desenvolvimento porque não existe como forçar mais impostos sobre a população. Então como fazer? Procurar quem tem dinheiro.

Os grandes empresários e as grandes empresas de tecnologia estão entrando com tudo no investimento em ciência. Na maioria dos casos por filantropia.

1b5790255-tdy-130130-billmelindagates-1-930a-today-inline-largeUm exemplo disso é a fundação Bill e Melinda Gates. Bill Gates você deve saber quem é. Esse senhor simpático da foto é o fundador da maior empresa de computação de todos os tempos: a Microsoft. Ele e a esposa, Melinda Gates, criaram a fundação filantrópica para investir em saúde global. O dinheiro sai da própria fortuna do dono da Microsoft. A fundação investe em epidemiologia e tratamento de diversas doenças infecciosas principalmente na África, uma vez que o objetivo principal é melhorar as condições de vida de pessoas muito necessitadas.

Alguns outros grandes nomes também estão se envolvendo. O prefeito de Nova Yorque, Michael Bloomberg , através de sua fundação filantrópica, doou 50 milhões de dólares para o museu de Ciência de Boston para ajudar com a pesquisa e desenvolver um programa de educação em engenharias e ciência. O co-fundador do Napster, Sean Parker, também doou cerca de 250 milhões de dólares para a pesquisa de desenvolvimento de imunoterapia contra o câncer.

Mais recentemente, um outro conhecido de vocês, também entrou para o clube seleto de filantrópicos da ciência. O co-fundador do Facebook, Mark Zuckerberg e sua esposa (na foto aí embaixo), a pediatra Priscilla Chan, anunciaram no final de 2016 a doação de 3 bilhões de dólares durante os próximos 10 anos para uma inciativa de pesquisa básica. Essa pesquisa vai ser liderada pela neurobiologista Cornelia Bargmann da Universidade de Rockfeller na cidade de Nova Yorque.

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Tradução da frase: “Poderemos curar todas as doenças durante o tempo de vida do nosso filha?”

Existem pessoas que já organizaram grupo filantrópicos para ajudar com esses investimentos como é o caso da aliança de filantropia científica, do inglês “Science Philanthropy Alliance“.

Esses investimentos são gigantescos e eu tenho certeza que vão impactar profundamente o desenvolvimento da ciência. É claro que os profissionais que trabalham nos Estados Unidos terão acesso inicial a esse dinheiro, mas nada impede que nós cientistas brasileiros também nos envolvemos e participamos desses avanços.

Referências:

http://www.sciencemag.org/news/2016/09/qa-can-facebook-billions-stop-disease-neuroscientist-aims-find-out

http://www.wbur.org/artery/2016/10/18/bloomberg-museum-of-science

http://www.latimes.com/science/sciencenow/la-sci-sn-cancer-immunotherapy-research-silicon-valley-20160412-story.html

3 comentários sobre “Um novo modelo de financiamento da ciência.

  1. Eu acho que uma das coisas que tem que mudar pra JÁ é a questão de como a divulgação científica é feita. Eu ouvi um episódio do podcast “Dragões de Garagem” em que um dos entrevistados falou que a vizinha chegou certa vez e perguntou em que ela trabalhava. Ele falou que a cerca de 10 anos pesquisava sobre uma doença e ela o questionou o “porque” de ainda não ter descoberto o que desejava. Bom a maneira de como mostramos para a população como as pesquisas são feitas e o “porque”delas serem feiras ainda é muito fraca. Poucos são os que tem acesso a divulgação científica e os que tem muitas vezes não a entendem.

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    1. Oi Leandro, muito obrigada pelo comentário!

      Com certeza precisamos melhorar a divulgação científica no Brasil e no mundo. Esse foi um dos motivos que me fez criar o blog. O exemplo que você deu é excelente. A população não tem noção de quanto tempo se leva para descobrir alguma e que, muitas vezes, não achamos respostas. Vou me inspirar no seu comentário e escrever um texto sobre isso…

      grande abraço! 🙂

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  2. Uma das coisas que poderíamos refletir também, ou ser tópico de um próximo post 😉 é sobre a do uso de recursos privados na ciência brasileira, tanto por parte da burocracia do nosso governo, que dificulta muito e praticamente não incentiva esse tipo de iniciativa, quanto por parte dos próprios pesquisadores, que ainda tem muito preconceito e que por acharem que vão perder autonomia muitas vezes acabam até evitando investimento privado…

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